A emergência climática e o desafio da transformação ecológica na Baixada Fluminense. Esse foi o tema central da 1ª Conferência Livre do Meio Ambiente realizada em 15 de outubro, no auditório da pós-graduação do câmpus Nova Iguaçu da UFRRJ (Instituto Multidisciplinar), dentro da programação da 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), que acontece nas universidades públicas em todo o Brasil.
A mesa de abertura (foto) contou com as presenças da Pró-Reitora de Extensão (ProExt/UFRRJ), professora Rosa Mendes e da Pró-Reitora Adjunta de Extensão, professora Edileuza Queiroz. Os demais integrantes foram Edgar Martins (secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Nova Iguaçu), Gustavo Coelho (advogado e representante do Condema – Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente de Nova Iguaçu) e Cristiane Cardoso (professora e representante do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGeo) da UFRRJ).
A iniciativa da conferência realizada pela ProExt da Universidade Rural contou com o apoio do Observatório de Gestão das Unidades de Conservação da Baixada Fluminense.
Em seu discurso de saudação aos presentes, a Pró-Reitora de Extensão enfatizou a necessidade da busca de recursos para a viabilização dos projetos deste segmento. A professora Rosa Mendes ressaltou a importância da parceria da Universidade Rural com os órgãos públicos em torno dos projetos ambientais, notadamente a prefeitura de Nova Iguaçu, através da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente. Nesse contexto, os alunos da UFRRJ interagem e aprendem com os pesquisadores do Parque Natural Municipal da cidade. Ela alertou sobre a urgência do tema Meio Ambiente a nível local, refletindo uma preocupação com os riscos que todo o planeta enfrenta na atual conjuntura de destruição da Natureza e seus recursos vitais para a sobrevivência humana.
À frente da coordenação da Conferência Livre do Meio Ambiente, a professora Edileuza Queiroz chamou a atenção para o significado da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. De acordo com a Pró-Reitora Adjunta de Extensão, a SNCT é o maior evento institucional existente, que congrega, num único formato, o Ensino, a Pesquisa e a Extensão universitária, dialogando não apenas com os estudantes, mas com a comunidade do entorno da instituição, além de contribuir para a popularização da Ciência em nosso país. Ela aproveitou para agradecer e informar que os recursos provenientes do apoio do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa) através do edital, tornaram possível a realização da SNCT. Outra instituição que colaborou para a presente edição do evento foi a FENIG (Fundação Educacional e Cultural de Nova Iguaçu), além dos alunos que atuaram como voluntários. Foi decidida a participação da ProExt e do PPGeo na 5ª Conferência Nacional de Meio Ambiente, prevista para ocorrer no ano que vem, em Brasília.
Edileuza destacou que a pauta ambiental coloca-se na ordem do dia das discussões e ações dos atores sociais e governamentais, em busca de soluções para a grave crise climática que ronda e atinge contingentes populacionais cada vez mais amplos. E é nesse contexto que se insere uma universidade pública instalada na Baixada Fluminense, em consonância com as demandas locais sociais e ambientais. A 1ª Conferência Livre do Meio Ambiente veio para atender essa expectativa, conectando a comunidade universitária com essas preocupações, além pensar políticas públicas para a problemática ambiental brasileira e mundial. A Pró-Reitora Adjunta de Extensão foi a idealizadora e criadora do Observatório de Gestão das Unidades de Conservação da Baixada Fluminense. Com apoio da FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do estado do RJ), o grupo de pesquisa do Observatório estuda e monitora a gestão das UC’s (unidades de conservação), já que quase 68% do território de Nova Iguaçu tem cobertura vegetal, em espaços ecossistêmicos legalmente protegidos.
Em sua intervenção, o advogado e ambientalista Gustavo Coelho representou no evento a OAB de Nova Iguaçu e o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente da cidade (Condema). Ele destacou a importância da parceria do conselho com a Universidade Rural, a partir das pesquisas e projetos desenvolvidos pela academia e que embasam a atuação do Condema, como instrumento do Poder Público municipal nas tomadas de decisão do órgão. O apoio, segundo ele, é fundamental uma vez que o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente é composto por pessoas oriundas da sociedade e que, em muitos casos, não possuem a “expertise” necessária em sua atuação cotidiana. Gustavo admitiu que o embasamento científico a partir desses estudos norteia muitas das decisões do órgão colegiado municipal, cuja função é consultiva e deliberativa da política ambiental de Nova Iguaçu. O representante da OAB iguaçuana assinalou que o importante é ressaltar o protagonismo exercido pelos integrantes do Condema, a partir das propostas e diretrizes surgidas no âmbito das universidades, como a UFRRJ.
Já a professora Cristiane Cardoso, do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRRJ, dissertou sobre as mudanças climáticas e seus impactos negativos na população de Nova Iguaçu e da Baixada Fluminense como um todo. O objetivo, segundo ela, foi avaliar como os períodos prolongados de seca ou chuva afetam o comportamento das populações locais. Como exemplo, Cristiane apresentou um gráfico relacionando a chuva ao longo deste ano. Em janeiro, houve um pico de chuva intensa na região, que alcançou mais de 60 milímetros num intervalo de três a quatro horas. Na comparação com o restante do mês, a chuva foi fraca denotando um desequilíbrio no índice de precipitação pluviométrica na região. Nesse contexto, ela explicou que são mais constantes os episódios de alagamentos, inundações e enchentes, ocasionando muitos prejuízos materiais e perdas de vidas humanas.
A representante do PPGeo frisou a importância significativa da realização de uma conferência ambiental como essa. Em sua visão, é chegada a hora de agir para pensar uma cidade mais resiliente e sustentável, preparada para lidar com tais fenômenos meteorológicos extremos. Ela defendeu a implantação urgente de políticas públicas de educação ambiental relacionadas à questão climática, a fim de dar conhecimento às populações acerca dos riscos a que estão submetidas e dessa forma se prepararem melhor para o enfrentamento desses eventos. E as escolas cumprem um papel fundamental nesse processo, defendeu Cristiane.
Outro palestrante da 1ª Conferência Livre do Meio Ambiente foi o professor Manoel Ricardo Simões, do IFRJ. Para ele, essa crise climática que afeta a Humanidade faz parte de um projeto de implantação da ocupação urbana, nos moldes do capitalismo que temos aqui no Brasil. O problema, segundo ele, é extremamente perverso, pois distribui de forma desigual as consequências e os efeitos da crise climática. Um exemplo disso é encontrado nas cidades, onde existem áreas protegidas por obras no processo de ocupação urbana e outras áreas sem proteção. Vemos isso na Baixada Fluminense e em várias regiões carentes do país: toda vez que há um evento climático extremo a população negra e pobre acaba sendo a mais prejudicada. Dessa forma, ocorre o fenômeno que chamamos de Injustiça Ambiental, resultando em seguida no Racismo Ambiental, a partir do fato das pessoas negras e pobres serem as maiores vítimas das catástrofes ambientais. O professor Manoel frisou que o maior desafio atualmente é saber como preparar e instrumentalizar a população mais carente para o enfrentamento dessa crise climática, a partir de sua condição de moradora das periferias urbanas desassistidas e pela cor de sua pele (preta e parda).
Por último, o professor de Geografia do IM, Cléber Marques de Castro abordou a pauta da crise climática sob a perspectiva do risco ambiental e social que ela representa, seja no âmbito federal e estadual, mas sobretudo nas cidades. Ele defendeu a necessidade de se pensar em políticas mitigadoras dos eventos extremos que já estão acontecendo em todo o país, seja pela abundância da água em inundações e enchentes, seja pela escassez provocada pela diminuição das chuvas, gerando problemas na produção agrícola e no abastecimento de gêneros alimentícios. De acordo com o professor Cléber, um desafio importante a ser encarado de frente é a capacidade de levar essas discussões da esfera acadêmica para os estudantes do nível básico médio e fundamental, nas escolas públicas e privadas. Ele enfatizou que isso inclui também mudanças de postura nas empresas e nas grandes corporações, em práticas que levem em conta a redução do consumo de água e de energia elétrica no processo produtivo. Para o professor Cléber, essa conjuntura preocupante e que compromete o futuro da vida está diretamente ligada à maneira como nós usamos o planeta e seus recursos naturais, indispensáveis à sobrevivência das várias espécies, não somente a humana. Segundo ele, é nesse sentido que o padrão vigente de consumo e desenvolvimento precisa ser reformulado, pois não serão apenas os pobres e excluídos a sofrerem os efeitos devastadores dessa política insana, mas toda a população das regiões atingidas pelos eventos climáticos, independente de sua condição social e econômica.
Após as palestras, houve a apresentação de trabalhos acadêmicos dos doutorandos do PPGeo/UFRRJ.
Em seguida, os participantes foram distribuídos em grupos de trabalho com os seguintes temas: Mitigação, Adaptação e preparação para desastres ambientais, Justiça Climática, Transformação Ecológica e Governança e Educação Ambiental.
Na plenária final do encontro, aprovou-se um documento contendo propostas e diretrizes a serem encaminhadas à 5ª Conferência Nacional de Meio Ambiente, prevista para ocorrer em 2025.
Por Ricardo Portugal – Assessoria de Comunicação do IM/UFRRJ
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