O evento intitulado “Diálogos Fluminenses” contou com a mediação do Reitor da UFRRJ, professor Roberto Rodrigues, e teve a presença de palestrantes convidados, como o professor Leandro Oliveira, Pró-reitor Adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação da UFRRJ; do Professor Mauro Osório, secretário-executivo do FRIPERJ e especialista em economia fluminense, além de um dos docentes da casa, o professor Israel Sanches Marcellino, que compartilhou sua experiência em pesquisas sobre sistemas de inovação e desenvolvimento regional.
Durante o encontro ocorrido no último dia 20/3 no Instituto Multidisciplinar (câmpus Nova Iguaçu da UFRRJ) – que recebeu um número expressivo de pessoas, entre professores, políticos, autoridades de governos municipais, empresários e estudantes – foram apresentados diferentes visões e pontos-chave acerca do impacto das universidades na criação de sistemas locais de inovação e desenvolvimento regional urbano para o estado do RJ. O tema foi destaque em uma abordagem contida numa tese de doutorado, recentemente premiada pelo FRIPERJ.
Em sua fala de abertura e saudação aos presentes, o Reitor Roberto Rodrigues (presidente do FRIPERJ) ressaltou que um dos objetivos do encontro foi fomentar o debate sobre o desenvolvimento socioeconômico do estado do Rio de Janeiro com um dos focos no estímulo ao crescimento econômico e promoção social da Baixada Fluminense. Para ele, as universidades podem dar uma contribuição importante e efetiva em favor dos municípios desta região, na formulação de políticas públicas para a busca de soluções de problemas locais. O professor Rodrigues assinalou que a proposta central do FRIPERJ é promover a interação entre os diversos atores envolvidos neste cenário. Ou seja, a partir da academia (alunos e professores) os políticos, empresários e trabalhadores vão poder receber subsídios e informações atualizadas, fato que facilitará a busca de soluções para os impasses sociais, econômicos e políticos atuais.
Coordenador do Grupo de Estudos sobre Economia e Desenvolvimento da Baixada Fluminense, Israel Sanches Marcellino é professor do Departamento de Economia do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ, em Nova Iguaçu. Há mais de 10 anos promovendo pesquisas sobre sistemas de inovação, economia fluminense e industrial, ele apontou que uma das questões importantes identificadas em seus estudos é que a universidade aponta múltiplos e diferentes caminhos e direções, além daqueles que o senso comum estabelece. Um exemplo disso é a percepção que o ambiente acadêmico forma e qualifica pessoas e a colaboração em projetos de pesquisa e desenvolvimento da indústria, através da universidade. Marcellino destacou que, em seus estudos, percebeu ser necessário dar maior visibilidade a outros caminhos, entre os quais a articulação direta com instituições que elaboram e promovem políticas públicas, uma vez que elas servem como pontos de referência para a identificação, avaliação e estudos de problemas no território em que atuam. E também podem configurar-se como espaços abertos para a promoção desse diálogo com a universidade, a partir de projetos de extensão. Para o professor Israel, o FRIPERJ constitui uma ferramenta importante para a concretização dessas iniciativas para além do convencional. Ele observou que o Forum auxilia as instituições acadêmicas a agirem de forma articulada e coordenada, nesse processo de construção do diálogo com instituições governamentais e não-governamentais, com as organizações da sociedade.
Já o professor Mauro Osório, secretário-executivo do FRIPERJ e mestre da UFRJ afirmou que o estado do Rio de Janeiro foi a unidade da federação que mais sofreu perda de participação na economia nacional, a partir de um acelerado esvaziamento econômico nas últimas décadas, com acentuada queda do PIB regional, caindo da segunda para a sexta colocação no ranking econômico dos estados brasileiros. Para o professor Osório, o papel histórico e primordial da universidade é fazer com que o estado passe a estimular e pensar a região de forma organizada, deixando um pouco de lado a ideia de Brasil e mundo. Ele destacou a importância da indústria fluminense por variados motivos: o setor paga salários mais elevados do que o comércio e os serviços, contratando maior número de mão-de-obra e matérias-primas. Além disso, as empresas fomentam o desenvolvimento regional – e não apenas da cidade onde está instalada – com o aquecimento da economia a partir da geração de empregos e a circulação de mercadorias. O professor da UFRJ apontou o estado de Santa Catarina como um dos mais industrializados do país, contando com quase 30% de seus empregos formais situados na indústria (o RJ não chega a 10% de postos de trabalho industriais). Ele destacou que Santa Catarina é pujante em sua economia não apenas porque desenvolve o turismo, mas por possuir grandes empresas e cadeias produtivas integradas. De acordo com o professor Osório, outro dado preocupante para o estado fluminense é a alta taxa de desemprego, atualmente girando em torno de 8,2% (Santa Catarina tem apenas 2,7%). A situação é tão grave para o povo do estado do RJ que a taxa de desocupação das Regiões Norte e Nordeste como um todo é menor que a do Rio de Janeiro. Tal fato explica a crise social, onde se registram altos índices de violência e exclusão, presentes no cenário do nosso estado.
O professor Leandro de Oliveira, na qualidade de Pró-Reitor Adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação da UFRRJ, centralizou sua fala na questão do espaço metropolitano como recorte específico de análise. O ponto de partida é a missão precípua de uma universidade pública na alavancagem do processo de desenvolvimento, tendo como objetivo a formação de pessoas com capacidade criativa e crítica, mão-de-obra qualificada para a formulação de diretrizes com vistas ao crescimento e desenvolvimento regional, pensando e repensando sua própria formação intelectual, além de atuar na construção da cidadania de um país, e de uma vida melhor para seus cidadãos. Segundo ele, outra missão da academia é a reflexão sobre a realidade social em que está inserida. Neste contexto, segundo ressaltou, a universidade tem primazia a partir das atividades de pesquisa e extensão, típicas do meio acadêmico. Ao ser indagado sobre como ser possível conciliar a agenda desenvolvimentista da Baixada Fluminense com a necessidade da preservação ambiental do que resta dos biomas de Mata Atlântica presentes nessa região, o professor Leandro enumerou sua resposta em três eixos: primeiramente registrou que o retrato do desenvolvimento brasileiro – nos marcos do capitalismo – historicamente sempre caracterizou-se como predatório, baseado na extração avassaladora dos recursos da Natureza. Por conseguinte, destacou também que uma das saídas para tal impasse é a utilização de fórmulas de sustentabilidade ambiental que não sejam unicamente importadas, uma vez que tais modelos estrangeiros não conseguem suprir necessidades de preservação dos variados biomas brasileiros, com suas especificidades de áreas de conservação e tipos de formação vegetal diferente, além de condições climáticas distintas entre si, ao longo da extensão territorial de nosso país. E por fim, outro aspecto nessa discussão implica na participação ativa das comunidades no processo de tomada de decisões. Para o professor Leandro, o uso das áreas de preservação ambiental como praias, entornos das Unidades de Conservação e espaços da agricultura familiar deveriam ser alvo de amplas discussões, democratizando as decisões quanto às destinações desses espaços territoriais. Com isso, o Pró-Reitor Adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação defende que o binômio entre Desenvolvimento e Equilíbrio Ecológico precisa partir de uma construção coletiva consensual, envolvendo o Poder Público e o protagonismo da sociedade civil organizada.
Por Ricardo Portugal – Assessoria de Comunicação do IM/UFRRJ
Mesa do debate do FRIPERJ, com os profs. Israel Marcellino, Mauro Osório, o Reitor Roberto Rodrigues, Viviana Freitas (coordenadora acadêmica do FRIPERJ) e o prof. Leandro Dias de Oliveira
Público presente ao debate do FRIPERJ, no câmpus do IM/UFRRJ
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