Segundo dados de uma pesquisa feita em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados na matéria do G1, 46 milhões de brasileiros ainda não tinham acesso à internet. Desses, 41,6% não sabiam usar a internet. Números como esse reforçam a importância de aulas de inclusão digital, já que muitos brasileiros ainda não sabem interagir com determinadas tecnologias.
Pensando em levar mais conectividade e facilitar a vida de pessoas idosas que ainda não sabem lidar com a tecnologia, foi criado o curso de “Inclusão Digital 60+”. O curso consiste em aulas de informática básica, visando a inclusão digital dessas pessoas que muitas vezes têm dificuldades na realização de tarefas simples.
O coordenador técnico do curso de Inclusão Digital 60+ (ID60+), Amaro Lima, doutor em Engenharia Elétrica e de Computação, entrou no projeto em 2019, com a implementação do +Casas da Inovação, parceria entre a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a Secretaria Municipal de Assuntos Estratégicos, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semacti) da Prefeitura de Nova Iguaçu.
A equipe do curso 60+ conta com cerca de 22 monitores. De acordo com o coordenador, as aulas de inclusão digital foram ministradas em todas as unidades do +Casas. Nas aulas presenciais, foram formados 126 alunos. Segundo o coordenador Lima, no 1º ciclo de aulas foram ofertadas apenas as aulas para pessoas com 60 anos ou mais, já no 2º ciclo também foram oferecidas aulas para alunos com 30 anos ou mais. Para atender a pessoas mais novas, algumas adaptações foram realizadas. “O curso de ID30+ considerava um conteúdo ligeiramente diferente do 60+, pois considerava o público com maior familiaridade com a tecnologia e com maior interesse em aprender algo a mais que pudesse ajudá-los em termos profissionais, desde a formatar um currículo até aprender planilhas e editores de texto”, explicou o coordenador.
Para atender a um público mais velho as aulas são pensadas para que tudo seja passado da forma mais didática possível. “Relembramos sempre a aula anterior, usamos uma velocidade mais moderada de apresentação de conteúdo, fazemos a apresentação de curiosidades sobre tecnologia durante as aulas, indicamos vídeos, filmes ou qualquer material facilmente acessível em casa”, contou Lima ao citar exemplos de adaptações feitas para esse curso.
O coordenador contou ainda quais foram as mudanças que ocorreram no curso ao passar da versão presencial para a versão online. De acordo com ele, devido ao isolamento social provocado pela pandemia, o curso precisou ser reformulado, uma vez que a inclusão digital em si não estava atendendo ao cursista. Por isso, com a aprovação dos gestores do projeto, o perfil dos participantes mudou, pois para começar o curso já é preciso saber utilizar o computador ou smartphone para as aulas online.
“O curso foi totalmente reformulado para contemplar ferramentas de produtividade online, como editores de texto, planilha, apresentações, acesso a e-mails, aplicativos de mensagens instantâneas, redes sociais, etc. Mas o nome de inclusão digital não atraia os cursistas. Foi então que por intermédio da ideia de uma monitora que sugerimos uma modificação no nome do curso para retratar melhor o conteúdo, sendo chamado de “Informática Descomplicada para Web” (IDW). Isso fez com que o curso apresentasse grande procura”, explicou Amaro Lima.
Foram quatro ciclos online. No 1º e 2º ciclos, quando o nome ainda era inclusão digital, foram atendidos um total de 22 alunos. No 3º e 4º ciclos foram atendidos 269 cursistas, já com o nome de IDW. Vale ressaltar que com a mudança na metodologia e no nome do curso para as aulas online a restrição da faixa etária foi eliminada e pessoas de todas as idades puderam participar.
A estudante de Geografia, do Instituto Multidisciplinar (IM), Camila Domingues, é monitora no projeto desde agosto de 2019. Ela explicou a metodologia do curso presencial. “Tivemos capacitação técnica sobre como funciona um computador e também sobre recursos da internet. Após isso, o desafio era adaptar esses assuntos ao público da terceira idade. Então, a maior ressalva era: paciência, pois não envolvia só passar um slide ou um tutorial na sala de aula. Cada monitor percebia a especificidade de cada idoso/idosa, e isso era indispensável para o prosseguimento da aula. Ninguém ficava para trás. E era comum que eles se ajudassem até. A ideia era garantir autonomia, não que fizéssemos para eles. Mas ficávamos de prontidão para auxiliar sempre que necessário”.
Devido a pandemia de Covid-19 as aulas presenciais foram suspensas no início deste ano, dando lugar a aulas online. Com a mudança algumas adaptações foram necessárias. Camila Domingues contou como isso impactou no perfil dos alunos atendidos. “O público se ampliou, a idade, a origem, quem sabe até a renda. Imagino que o contexto possibilitou que mais gente acessasse. O nosso curso sempre pensou, além da idade, no contexto socioeconômico dos idosos, que são pessoas de baixa renda e que moram em bairros mais distantes do Centro”, explicou a monitora.
A estudante falou também sobre o impacto que trabalhar como monitora gerou em sua vida. “Para mim, foi rico demais. A minha formação é em licenciatura e eu tenho 25 anos. Ensinar e aprender com alguém da idade da minha avó, por exemplo, me mostra muito mais sobre a humildade que envolve o processo de ensino-aprendizagem na prática do que qualquer teoria”, relatou.
Outro monitor que teve sua vida impactada pelo projeto foi Nickolas Machado, bolsista na equipe de acessibilidade e ex-monitor do curso de games e inclusão digital 60+, o estudante faz graduação em Ciência da Computação no IM. Participando do projeto há um ano e quatro meses relatou a mudança. “Minha ideia para entrar no projeto foi melhorar minha didática, o projeto me ajudou demais nisso. Não apenas pude me envolver com a equipe de acessibilidade e ter maior formação na área, algo útil para mim já que por vezes há carência na Ciência da Computação. Além disso, pude me envolver na apresentação e desenvolvimento de artigos na área, uma experiência singular”, contou.
O monitor contou também como é gratificante observar o avanço dos alunos perante as tecnologias atuais. A maior dificuldade, de acordo com Nickolas, foi a adaptação dos alunos. “Muitos deles têm dificuldade em manusear a plataforma e em seguir as instruções, mesmo que estejam em vídeo e escritas. Contudo, estamos trabalhando fortemente para ajudá-los, seja em contato direto com eles, ou criando ferramentas facilitadoras do uso. Com isso, a maioria dos alunos se adapta muito bem aos cursos e consegue concluí-los”, finalizou.
Por Thaís Melo – Assessoria de Comunicação da Pró-Reitoria de Extensão (ProExt/UFRRJ)
Formatura de uma das turmas ocorrida antes da pandemia
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