A biblioteca do Instituto Multidisciplinar foi recentemente alvo de um estudo inédito e bastante interessante. O trabalho resultou num livro intitulado “Um estudo avaliativo da biblioteca do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro”, e constituiu-se a partir de uma dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade Cesgranrio.
O bibliotecário Luiz Fernando Corrêa da Silva Cavalcante (foto), atualmente ex-chefe do referido setor, é o autor deste estudo avaliativo. Ele ingressou na Universidade Rural em 2006 (em Seropédica), tornando-se chefe da biblioteca do IM a partir de março de 2010. Segundo ele, foi uma época difícil em que os cursos da UFRRJ eram alvo constante de avaliações do INEP/MEC a cada semestre.
Segundo Luiz Fernando, foi por essa razão que surgiu a necessidade de se avaliar o serviço prestado pela biblioteca do Instituto Multidisciplinar, tais como a identificação de seus usuários, o quê eles achavam das condições físicas e materiais do setor e a qualidade do serviço prestado. A partir daí e aconselhado por uma amiga, Luiz Fernando fez o curso de Avaliação da Fundação Cesgranrio, no âmbito geral, mas procurou centrar seu foco nas questões relativas às bibliotecas.
O referido curso foi o estopim que deu início à produção posterior de um estudo avaliativo na forma de uma dissertação, acerca do funcionamento da biblioteca do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ sob a ótica de seus usuários. O estudo desenvolvido por ele contou com a orientação da professora do Mestrado da Fundação Cesgranrio, Maria de Lourdes Sá Earp de Mello e Silva, que o auxiliou na elaboração de sua tese dissertativa. A mesma foi então apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade Cesgranrio, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Avaliação.
Múltiplos usuários no IM
Apesar dos usuários da biblioteca do IM serem professores e alunos de diferentes especialidades (mestrado, doutorado, etc), o bibliotecário contou que procurou focar seu estudo naquele universo maior de alunos do instituto (os que cursam a graduação) pelo fato de estarem mais em evidência nas avaliações do INEP/MEC. A partir de uma metodologia desenvolvida por ele e pela professora Maria de Lourdes, criou-se uma abordagem avaliativa centrada nos “consumidores-alvo”: os alunos que se utilizam dos serviços. Foram então objeto de avaliação a infraestrutura do setor, os serviços oferecidos e o acervo da biblioteca do IM.
Na infraestrutura, os indicadores eram: condições físicas, o funcionamento e os equipamentos. Na questão dos serviços, foram elencados todos aqueles que são oferecidos ao público-alvo. Ele lembrou que sua tese de dissertação de Mestrado encontra-se disponibilizada no website da Fundação Cesgranrio e que serviu de base para o livro posteriormente publicado. Após um ano, a tese avaliativa da biblioteca do IM passou a integrar uma série de estudos multidisciplinares, tendo sido editada este ano pela Fundação Cesgranrio.
Luiz Fernando também desenvolveu um instrumento de avaliação, a partir da elaboração de um questionário com questões abertas e fechadas, onde o aluno pôde dar sua opinião, justificando o porquê de sua opção. Ao todo, foram 54 indicadores, onde foram analisadas as falas dos alunos frequentadores da biblioteca, que mediam desde a satisfação com a infraestrutura e indo até a baixa qualidade dos equipamentos (como aparelhos de ar- condicionado defeituosos, etc). O bibliotecário classificou essa iniciativa como muito rica e proveitosa e que deu um feedback imenso. Tudo isso gerou coleta de dados e avaliações, onde foram identificados os pontos nos quais o estudantes estavam mais insatisfeitos. Como consequência, foram feitas diversas recomendações em torno daquilo que poderia ser melhorado.
Preliminarmente, o questionário seria aplicado aos estudantes de graduação do IM em novembro de 2016, no âmbito da própria biblioteca do instituto. No entanto, em função da crise política que assolava o país naquele período, deflagrou-se uma greve dos servidores técnico-administrativos em Educação no dia 27 de outubro daquele ano. A paralisação das atividades laborais ocorreu em protesto contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/166 e a consequente retirada de direitos dos servidores públicos federais. Em seguida, no dia 1º de novembro, os estudantes da UFRRJ em Nova Iguaçu ocuparam o Instituto Multidisciplinar em protesto contra a PEC. Por 40 dias, o movimento de ocupação estudantil permaneceu no interior do câmpus Nova Iguaçu da UFRRJ.
Luiz Fernando contou que, diante deste cenário, a metodologia de aplicação do questionário aos alunos teve que ser revista, Por conta da greve e da ocupação estudantil aos prédios do Instituto Multidisciplinar, não foi possível abordar os alunos no espaço da biblioteca.
O autor desse estudo obteve apoio da direção do movimento estudantil, fato que permitiu a aplicação do questionário na parte externa do IM. Cabe registrar que no final de outubro de 2016 foi emitido um e-mail, endereçado a todos os usuários inscritos na biblioteca. Dessa forma, divulgou-se a avaliação da biblioteca no câmpus Nova Iguaçu da UFRRJ. O ex-chefe da biblioteca informou que o questionário foi aplicado do dia 3 de novembro até 9 de dezembro de 2016, em dias alternados. A análise dos dados foi realizada em duas etapas distintas. Na primeira, as respostas dos estudantes foram analisadas por meio de procedimentos estatísticos descritivos, sendo apresentadas em tabelas por subcategoria e indicadores, incluindo os totais de respostas por nível de satisfação. À medida em que o estudo avaliativo objetivou conhecer o nível de satisfação dos estudantes em relação à biblioteca do IM, Luiz Fernando decidiu classificar a satisfação em relação aos indicadores em três medidas, a saber:
1) Alta: quando o somatório das respostas nas opções Muito Satisfeito e Satisfeito estava no intervalo de 27 a 39, ou seja, quando o somatório estava no intervalo 0,66 a 1, foi considerado que o indicador apontou para um alto nível de satisfação;
2) Média: quando o somatório das respostas para as opções Muito Satisfeito e Satisfeito estava no intervalo de 14 a 26, ou seja, quando o somatório estava no intervalo 0,33 a 0,65, foi considerado que o indicador apontou para um médio nível de satisfação;
3) Baixa: quando o somatório das respostas para as opções Muito Satisfeito e Satisfeito estava no intervalo de 0 a 13, ou seja, quando o somatório estava no intervalo de 0 a 0,32, foi considerado que o indicador apontou para um baixo nível de satisfação;
Luiz Fernando explicou que, na segunda etapa, foi realizada a análise qualitativa das justificativas das respostas de insatisfação dos estudantes. Segundo ele, tal procedimento combinado à análise quantitativa, tornou possível ao pesquisador fazer um cruzamento de suas conclusões, de modo a obter maior confiança que seus dados não são produto de um procedimento específico, ou de alguma situação particular. Uma boa notícia é que foi constatado nesse levantamento que uma maioria expressiva dos estudantes de graduação do IM/UFRRJ é oriunda de cidades da Baixada Fluminense e caracteriza-se pela frequência à biblioteca em média duas vezes por semana, sendo o contingente mais assíduo composto por alunos dos cursos de Economia, Matemática, História e Administração.
Possíveis desdobramentos do estudo
O bibliotecário do IM/UFRRJ aproveitou para sugerir que sua pesquisa avaliativa pudesse ser ampliada para outros indicadores, como no caso da acessibilidade de alunos portadores de necessidades especiais à biblioteca do instituto. Isso em função de se garantir o mesmo direito de acesso à informação e ao conhecimento a todos os usuários dos serviços da biblioteca. Ele apontou o NAI – Núcleo de Acessibilidade e Inclusão como um possível parceiro num eventual estudo sobre as necessidades e demandas desse público específico, no tocante ao acesso aos serviços oferecidos pela biblioteca do câmpus Nova Iguaçu da UFRRJ.
Outro dado importante ressaltado por Luiz Fernando é a visibilidade que esse tipo de avaliação resulta para o setor, a partir da identificação das demandas e exigências de seus usuários. O bibliotecário também fez questão de enfatizar a importância que a universidade deveria dar a esses estudos avaliativos, que detectam tais necessidades a partir das percepções recolhidas do público frequentador da biblioteca.
Por Ricardo Portugal – Assessoria de Imprensa do IM/UFRRJ
Capa do livro de Luiz Fernando
Contracapa do livro de Luiz Fernando
O bibliotecário do IM/UFRRJ, Luiz Fernando Corrêa Cavalcante
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